
Como a respiração pode nos ajudar a conectar com momento presente

Por Marcos Rojo
- Como a respiração pode nos ajudar a conectar com o presente?
R: Não há nada mais presente do que a respiração. Observar a respiração é uma das formas mais evidentes de se manter atento ao que está acontecendo no momento.
É o aqui e agora.
Executar atividades sem prestar atenção nelas, é comum para nós, estamos muito habituados a fazer mecanicamente. Quando fazemos algo e prestamos atenção, já damos um grande passo no caminho da meditação, mas, quando continuamos atentos e não estamos fazendo nada, isto é um passo ainda maior. Apenas observar a respiração já é um grande exercício para nos conectar com o presente.
- Qual é a importância de respirar de forma correta e de fazer pranayamas?
R: Não existe um padrão respiratório correto. Respiração é algo dinâmico que se ajusta a cada situação. A respiração é automática e não convém achar que temos que respirar de uma maneira específica ou de outra o dia inteiro. Graças ao bom Deus podemos respirar sem ficar pensando ou comandando o tempo todo, senão, não poderíamos dormir ou fazer outras tarefas. O que temos que fazer é eliminar os fatores que impedem que a respiração aconteça adequadamente e entre eles está o stress. Portanto, o relaxamento já pode ser uma grande prática auxiliar para o reestabelecimento de respirações corretas.Asanas que atuam na musculatura da caixa torácica e região abdominal e que podem melhorar o tônus desta musculatura e a mobilidade destas regiões serão outra grande ajuda para que a respiração aconteça como tem que acontecer.
Quando fazemos pranayamas, fazemos com um propósito específico. Interferimos na respiração para modificar o padrão mental.
- Há menção, nos textos clássicos, sobre como a respiração nos ajuda a permanecer conectados?
R: Depende do que você quer dizer com “conectados”.
- Patanjali diz que através do Pranayama a mente fica preparada para a concentração.
- O Hatha Pradipika diz que a atividade de citta (mente) e a atividade de prana (respiração) andam juntas. Como não podemos interferir na atividade da mente diretamente, interferimos indiretamente através da atividade respiratória. Ou seja, assim como está a mente está a respiração e vice-versa. Acalme a respiração e sua mente se acalmará.
- O Gueranda Samhita diz que através da pratica dos pranayamas um homem pode se parecer com Deus.
De alguma forma nas três citações encontramos o sentido de “conectados”.
- Como funcionam as técnicas de respiração em nosso corpo?
Respiração é uma forma de massagear internamente. Quando o diafragma se movimenta ele massageia as nossas vísceras e se mantivermos o abdome sob controle, podemos otimizar estes efeitos.
Técnicas respiratórias como Uddyiana e Kapalabhati, mesmo não sendo pranayamas, são excelentes exercícios para manter a saúde do nosso sistema respiratório, dando tonicidade aos músculos e elasticidade à caixa torácica, por isso são muito bons como preparação para os pranayamas.
O processo respiratório tem efeito no corpo todo, visto que a função principal da respiração é levar nutrientes a todas as células do corpo e retirar delas os resíduos. Assim, uma boa respiração, associada a uma boa condição circulatória, é um grande passo para manter o nosso corpo todo saudável.
- Quais técnicas de pranayama são melhores para diminuir a ansiedade? E para melhorar a saúde?
R: Talvez consigamos mais benefícios para a diminuição da ansiedade através dos asanas, incluindo o relaxamento (shavasana) e através de respirações profundas e lentas (completas) do que propriamente com os pranayamas. Para fazer pranayamas é preciso estar bem física e mentalmente. Entendemos que todas as técnicas de yoga (asanas, bandhas, mudras e kriyas) são preparatórias para os pranayamas, sem nos esquecermos, obviamente, dos yamas e nyamas. Assim, para que consigamos os efeitos positivos de uma determinada técnica, teremos que nos preparar adequadamente para sua prática, ou seja, alimentação adequada, descanso adequado, estilo de vida adequado. Fazer os pranayamas sem estes pré-requisitos, pode nos levar a efeitos inversos aos desejados. Lembre-se do que diz o Hatha Pradipika: “com a prática correta de pranayamas todas as doenças poderão ser curadas, mas, com a prática errada, todas as doenças poderão ser adquiridas”.
Pranayama é um tipo de “exercício” muito sofisticado, seu efeito principal está na manipulação dos impulsos respiratórios, especialmente nas pausas, é preciso ter cuidado. O segredo é ficar o maior tempo possível sem respirar, mas, sem sentir falta de ar.
- Qual a ligação entre respiração pobre e problemas de saúde, como ansiedade?
R: Eu não sei o que quer dizer respiração pobre.
A respiração tanto pode ser um reflexo como pode ser uma causa. Podemos respirar mal porque estamos com as vias respiratórias obstruídas, porque nossa mecânica respiratória se encontra prejudicada, porque aprendemos errado ou porque nos encontramos num estado emocionalmente alterado. Nestes casos, a respiração é um reflexo.
Por outro lado, respirar “errado” pode acarretar problemas. Por exemplo: respirar pela boca por muito tempo, pode ocasionar problemas bucais, na faringe e daí por diante; respirar sem que o abdome naturalmente participe com seus movimentos, pode dificultar nossos procedimentos digestivos e também uma respiração inadequada pode modificar meu humor.
Com relação à ansiedade, eu acho (minha opinião) que a respiração é na maioria das vezes um reflexo e não uma causa, ou seja, temos alterações no padrão respiratório provenientes de uma alteração emocional. Acredita o Yoga que o caminho inverso é trambém verdadeiro, ou seja, eu posso interferir nos mecanismos que tem uma relação com as emoções a fim de poder modificar o padrão emocional, mas, isto tem que ser feito com critério, senão o “tiro sai pela culatra”. A forma mais segura que posso recomendar num artigo escrito é: respirar lenta e profundamente, com movimentos amplos de expansão torácica e abdominal, com a saída do ar por um tempo maior do que a entrada, se possível o dobro, por pelo menos dez e não mais do que vinte vezes. Faça isto conscientemente, três ou quatro vezes por dia e não subestime seus efeitos. Temos o hábito de dar valor apenas para exercícios difíceis.