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YOGA E SAÚDE

Por Marcos Rojo

 

A palavra saúde tem na sua origem a ideia de sanar e de purificar. Da mesma forma, o conceito de remoção das impurezas é constante no yoga. Tudo no yoga é purificação, este conceito de limpeza permeia todas as suas técnicas. O próprio sábio do yoga, Patanajali, é conhecido como aquele que ajuda a remover as impurezas da fala pelo seu trabalho em gramática, as impurezas do corpo pelo seu trabalho na medicina ayurvédica e as impurezas da mente por seu trabalho no yoga.  
 
A palavra sânscrita VYADHI(vy-a-dhi) é derivada da raiz DHAque significa “estabelecer”, acrescida do prefixo VI que significa “divisão”. VYADHI nos passa o sentido de “dividir”, “desorganizar” ou ter alguém em “má disposição”. “Indispor“, em português, no sentido de “produzir mal-estar” ou “indisposição” é uma aproximação semântica com o nosso sentido de doença.
 
O antônimo de VYADHI é SAMADHI.Da mesma raiz sânscrita DHA (sam-a-dhi) acrescida do prefixo SAM,que significa “totalidade”, SAMADHI significa literalmente, “compor”, “congregar”, “reunir”, ou, especificando melhor a etimologia, “dispor alguém, de forma coesa e total”.
 
Patanjali define YOGA como sendo SAMADHI, ou seja, yoga é o estado de totalidade ou integração e este é o estado de saúde perfeita, enquanto VYADHI, que significa estado perturbado da mente, é sinônimo de doença. Saúde é a condição equilibrada da mente e doença é a mente perturbada. Mente perturbada é a mente que se identifica com os papéis que assumimos o tempo todo, por exemplo, agora estou no papel de escritor (que pretensão a minha!) e vocês no papel de leitores. Estes papéis mudam o tempo todo e nós os vivemos como se fossem reais. No estado de saúde perfeita, não nos identificamos com os papéis. Vivemos os papéis, mas, nos identificamos com a nossa verdadeira realidade ou essência. Sofreremos menos se não acharmos que somos os papéis que vivemos, assim entende o Yoga. Mas, tudo isso não é tão fácil, antes mesmo de acabar de escrever este artigo, eu já assumo outro papel e o vivo intensamente e acabo me esquecendo de quem verdadeiramente sou. Por isso o Yoga tem uma proposta que passa por todos os nossos níveis de manifestação, desde o mais grosseiro (o corpo) até os mais sutis, passando pela respiração, mente, intelecto e consciência.
 
Arogya é um estado de saúde, em que todas as funções de meu corpo operam de maneira harmoniosa.  Nenhuma de minhas funções internas me perturba.  Não apenas meus músculos, membros e ligamentos, mas, também, meu sistema digestivo, meu sistema excretor, meu sistema respiratório, meu sistema cardiovascular, todos esses vários sistemas operaram em harmonia. Assim, não apenas não deveria haver desconforto em meus músculos, articulações e ligamentos, mas, também, minhas funções internas deveriam operar sem problemas, de maneira saudável.  Esses são alguns dos efeitos muito importantes da prática de ásanas, mas, lembrem-se de que os ásanas não foram desenvolvidos como um meio de terapia.  Não é que todos aqueles iogues eram pessoas doentes que buscavam algum tipo de terapia.  Eles buscavam um estado que fosse livre da geração de perturbações e distrações, para poderem entrar no mais profundo fluxo do pranayama.   O principal efeito da prática dos asanas é a aquisição de um estado em que não sou perturbado por nenhuma distração, nem no nível físico, nem no fisiológico.


Desaparece a necessidade de se movimentar.  Sinto-me tão estável, tão cômodo, que não preciso me mover.  Assim, o primeiro e importante pré requisito para entrar em pranayama, é o de desenvolver a capacidade pela qual meu corpo possa se sentir confortável, sem ter a necessidade de se mover, por um longo período de tempo.  Eu preciso desenvolver a capacidade de me sentir estável.

A maioria das práticas de yoga não demanda muito tempo para seu aprendizado, não são complicadas. Porém, uma coisa é aprender uma técnica e outra  é praticá-la regularmente. Regularidade em yoga significa todos os dias.  Na maior parte do tempo, as pessoas costumam concentrar suas energias no aprendizado de novas técnicas, porém, poucos são os que se dão conta do verdadeiro significado de repetir uma mesma prática, por um longo período.  É só assim que verdadeiramente começamos a experimentar alguma coisa.  No início, muitas vezes, despendemos muita energia com o aprendizado de uma nova postura, mas, somente quando a executamos todos os dias, depois de um tempo, é que passamos a executar essa postura com menos esforço.  Ela passa a acontecer de uma forma mais natural.

Grande parte de nossa energia se vê bloqueada quando apenas praticamos, sem “experienciar”.  Quando praticamos yoga, estamos interessados no efeito dos exercícios e não na sua simples execução. Às vezes, acreditamos que não haverá resultado, a menos que apliquemos muito esforço, desta forma, a nossa mente está mais envolvida com o esforço do que com o resultado.   Analisemos as seguintes afirmações:

·         Eu preciso estar no controle
·         Eu preciso me certificar de que as coisas aconteçam corretamente
·         Fico ansioso se as coisas não acontecem corretamente
·         Fico muito orgulhoso quando as coisas acontecem corretamente

Sabemos que tudo isso nada mais é do que a expressão do ego. Ter que estar no controle ou ficar ansioso se as coisas não acontecem como eu quero, são apenas diferentes tonalidades da mesma tendência egoísta.  A mente torna-se cada vez menos autocentrada ou egoísta sempre que as coisas começam a acontecer sem esforço.  Passamos a experienciar as coisas que acontecem de maneira natural, sem que tenhamos que estar no controle, o tempo todo.  Isso se aplica tanto aos ásanas, quanto ao pranayama ou à meditação.  Pois você irá perceber que a meditação não significa que você esteja focalizando sua atenção em algo, ou concentrando-se em algo, e que você esteja controlando a mente.  Muitas vezes as pessoas pensam que a meditação é a focalização da atenção em um determinado objeto, ou determinada sensação.  Porém, se em sua meditação você não incluir uma investigação, ou exploração, no sentido de descobrir quem é aquele que medita, quem é que deseja se concentrar, então, na verdade, ela não será útil.  Meditar não é focalizar a atenção nisso ou naquilo, mas descobrir quem quer se concentrar, quem deseja o controle.  A compreensão de toda essa dinâmica é que constitui o processo da meditação.  Posso focalizar minha atenção neste ou naquele objeto, mas isso é secundário.  O que preciso descobrir é quem é essa pessoa, ou quem é esse eu que se esforça para meditar.  Quem é o sujeito que se esforça?  Por que existe a necessidade de se fazer esforços? 

Portanto, não se trata apenas de conhecer a técnica de um determinado ásana, pranayama, ou da entoação de mantra. O aprendizado dessas técnicas não demanda muito tempo.  Porém, uma vez aprendida, a menos que você a pratique, ela não poderá se tornar natural, suave, sem esforço. A menos que ela se torne isenta de esforço, ela não nos abrirá a possibilidade de conhecer o que está além. Veja por exemplo o que acontece quando praticamos pranayamas. Sugerem os textos tradicionais do Hatha Yoga que pratiquemos 80 repetições de uma determinada técnica respiratória. Este número pode assustar muita gente quando ele é associado à ideia de “ter que fazer”, esforço ou obrigação. Mas, se você se lembrar de que respira de 25.000 a 30.000 vezes por dia e que isto não o incomoda, poderá concluir que a prática de uma determinada técnica o incomoda porque ainda não é natural, porque ainda não é agradável, quando é puro esforço.

Costumo dizer que o primeiro passo no caminho do yoga, ou a primeira lição que deve ser aprendida pelo praticante de yoga é “não sofrer na prática”. E o segundo passo ou a segunda lição, mais importante ainda do que a primeira é “ter prazer na prática”. Se você ainda não tem prazer na prática, que pelo menos não sofra e é só você quem consegue isto, nenhum professor fará isto por você.

BOA PRÁTICA
 

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